Do Vale do Paraíba ao Vale do Silício

A gente aprende demais não só com os conteúdos, mas também com as trocas de ideias e interações com a galera.

Parte da equipe da StartSe (14 pessoas), de costas e de pé, olhando pra frente no meio de uma rua deserta em San Carlos, Califórnia. Há uma bandeira dos EUA no lado esquerdo da foto e céu azul entre nuvens acima.

Há pouco mais de um ano, eu estava na cozinha da casa dos meus pais, em Lorena, no interior de São Paulo, conversando com minha mãe, enquanto fazíamos a janta. Mostrei a ela um vídeo do Mauricio Benvenutti no qual ele contava todo empolgado que largou uma carreira executiva bem sucedida na XP Investimentos, uma das maiores instituições financeiras da América Latina, para empreender, e sobre seu novo projeto: a StartSe. Enquanto ouvia a música de fundo do vídeo da banda Imagine Dragons, tudo parecia me chamar a atenção, junto com as imagens de San Francisco:

Cause I'm on top of the world, 'ay (Porque eu estou no topo do mundo, ei)
I'm on top of the world, 'ay (Eu estou no topo do mundo, ei)
[...]
Been dreaming with this since a child (Tenho sonhado com isso desde criança)
I'm on top of the world (Eu estou no topo do mundo)

Inclusive a fala do próprio Mauricio:

"[...] seja você uma pessoa que tem muita vontade de começar, mas não sabe como, pode contar comigo! Conta comigo, conta com a StartSe. A gente faz questão de lhe ajudar."

Naquele momento eu mal sabia que, de fato, ele e a StartSe fizeram questão de me ajudar, não só a realizar esse meu sonho, mas em vários outros aspectos.

Minha mãe já sabia desde quando eu era moleque que um dos meus sonhos era visitar a Califórnia, andar pelas ruas de San Francisco e, quem sabe, ter uma experiência vivendo por lá - pelo menos por uns dias. Como sou louco por tecnologia há muito, conhecer o Vale do Silício representava - e representa - muito pra mim, mas naquele momento a realidade era outro Vale: o do Paraíba mesmo. Pra quem não sabe, a linda região do Vale do Paraíba é uma localidade que abrange algumas cidades do interior de São Paulo e do Rio de Janeiro, como São José dos Campos, Taubaté, Aparecida, Lorena, Volta Redonda e Resende.

Pouco antes do vídeo acabar disse a minha mãe que um dia visitaria a tão sonhada Califórnia. Ela me disse que tinha certeza disso; não sabia como, mas tinha certeza. Naquele momento, eu só conseguiria realizar esse sonho se eu ganhasse na loteria ou algo do tipo, já que tinha saído de uma pequena agência que trabalhava - e estava fazendo alguns freelas trabalhando em casa - e meu pais não tinham dinheiro nem pra pagar a passagem. Mas na verdade eu imaginava que realizaria isso, por exemplo, em uns 5 ou 7 anos. Ainda bem que estava enganado.

Fiquei trabalhando anos nos bastidores pra sair do interior e ir pra São Paulo porque tinha plena convicção de que tinha que fazer isso de qualquer jeito. Eu não sabia como, nem quando exatamente, mas tinha que sair da casa dos meus pais se quisesse evoluir de maneira exponencial, pessoal e profissionalmente falando. Não que não seja possível evoluir e crescer morando no interior, mas é que dentro de mim eu sentia que tinha que estar em outro lugar. Isso foi pro meu caso especificamente. Sempre fui muito emotivo, mais coração do que razão - e to tentando equilibrar um pouco mais isso - e acredito plenamente em intuição, algo que tenho evoluído mais depois de começar a meditar.

O episódio do vídeo foi no começo de 2017, uns dias depois de eu ter aplicado pra uma posição aberta na StartSe de Desenvolvedor Front-end. Nos primeiros 4 meses do ano em questão, eu coloquei uns 50 currículos na rua e fiz 19 entrevistas - a maioria em São Paulo. Dessas 19 entrevistas, fui chamado pra trabalhar em 2 empresas. Na Accenture e, sim, na StartSe.

Durante esse processo, até participei de uma longa entrevista na IBM (de uns 2 meses), com 5 fases - online: avaliação lógica, avaliação sobre programação e projeto no GitHub / presencial: entrevista em grupo baseada em dinâmicas com 8 finalistas e testes sobre as tecnologias utilizadas como prova, em papel, com questões dissertativas e de múltipla escolha -, tendo que competir com mais de 2 mil pessoas, pra uma posição de Desenvolvedor Front-end também. Consegui ficar em 4º lugar - mesmo não acreditando até hoje -, mas naquele momento seriam apenas 2 vagas. Digo não ter acreditado até hoje porque a vaga em questão determinava que o desenvolvedor trabalhasse com Angular, um framework do Google que, basicamente, permite desenvolver aplicações web e mobile. Mas eu entendia entendo de Angular como eu entendia entendo de física quântica. Como um bom brasileiro, tinha aplicado mesmo assim e, logo em seguida, comprei um curso na Udemy por R$ 20 sobre o assunto e estudei por uns dias (o mínimo pra colocar o projeto que eles pediram no ar). Aos desenvolvedores lendo isso: aquele momento nem entendia tanto de Git que acabei comittando o node_modules do projeto e esqueci de colocá-lo no .gitignore. Seja legal e não me julgue. Não faço mais isso. Contudo, sim, fiquei triste por não ter passado na entrevista, mas nada se comparava a alegria que me esperava.

Fato é que tive que colocar minha intuição pra trabalhar novamente. Quando recebi o contato da Accenture, teria que fazer uma entrevista no dia seguinte em São Paulo - numa quinta-feira -, mas naquele momento não tinha o dinheiro nem mesmo pra comprar a passagem de ônibus pra ir à Capital. Questionei ao recrutador se poderia ser em outro dia e ele sugeriu que eu fosse entrevistado no dia seguinte - numa sexta-feira -, remotamente. Essa foi minha primeira experiência fazendo uma entrevista de maneira remota. E foi bem legal. O entrevistador era gerente técnico da área de TI e explicou um pouco sobre a empresa, as tecnologias que eles utilizavam, dentre outras coisas. Neste momento, a entrevista com a StartSe na quarta-feira seguinte estava certa.

Chegada a quarta seguinte, consegui ter a minha melhor participação em entrevistas, na minha opinião. Me lembro exatamente do Eduardo Glitz (sócio da StartSe, ex-sócio da XP Investimentos, investidor de startups, que deu uma volta ao mundo em 2016) e do João Evaristo (sócio-fundador da StartSe) falando sobre o projeto, sobre os 3 pilares da empresa (que acabou evoluindo), e sobre o que eles esperam de cada pessoa que trabalha com eles. Na hora já me senti parte daquilo e me chamou muita atenção. Na minha cabeça, tinha alguns minutos pra mostrar que eu queria e poderia ajudar a empresa de alguma forma. Lembro que durante a entrevista tinha sugerido a construção de um fórum, onde todas as personas do ecossistema de startups e do empreendedorismo poderiam se conectar, fazer networking e crescer. Depois soube que eles já estavam trabalhando nessa ideia. Essa seria a primeira de 2 entrevistas (uma em grupo e outra individual, com os destaques).

Passada a entrevista, voltando pro interior de ônibus, umas 22h, recebi uma ligação do Head de TI da Accenture falando que passei no processo seletivo, que eu teria que dar uma resposta no dia seguinte e que eles já enviaram a proposta formalizada por e-mail.

Fiquei feliz e nervoso ao mesmo tempo naquele momento. O que fazer? Aceitar algo certo ou esperar por algo que até então era utopia? O que você faria?

No dia seguinte, dia de dar a resposta pra Accenture, pensei bem, refleti, segui minha intuição. Recusei. Agradeci de coração o contato e a confiança da empresa, mas disse que queria seguir com outro projeto. Sim, mesmo sem saber a resposta da StartSe.

Depois de ser chamado de louco - e talvez eu seja mesmo -, um dia depois recebi o contato do João da StartSe me convidando pra uma entrevista individual em São Paulo na quarta-feira seguinte. Fiquei vibrante e feliz demais!

Chegado o dia, fui entrevistado num papo bem descontraído com o João e outro desenvolvedor (que futuramente me ajudaria muito nesse começo e moraria no mesmo apartamento que eu por 5 meses). Negócio fechado. Aceitei a proposta da StartSe e a empresa apostou em mim. Essa foi uma das minhas maiores alegrias, porque realmente sentia que faria parte de algo grande e que toda a experiência que eu viveria - e vivo - me daria a chance de me desenvolver de maneira gigante, principalmente por trabalhar com gente que acredito ter o mindset e objetivos alinhados com o meu.

Consumo muito conteúdo sobre empreendedorismo e alta performance há muito e com certeza isso me ajudou demais nas entrevistas por ter assuntos pra debater, discutir e sugerir.

Não posso deixar de citar o curso Welcome to the Django do meu amigo Henrique Bastos, que comprei também no começo de 2017 e foi - aliás, é - importante demais pra mim, inclusive nesse processo da ida do interior pra Capital. Lá, além do curso, além de programação (com mais conteúdos sobre Python e Django, que quero ser especialista futuramente), nós discutimos sobre literalmente tudo. E a regra lá é: tem dúvida? Joga no fórum. Isso mesmo. Um fórum com uma galera falando sobre programação, finanças, infortúnios e alegrias da vida e tudo mais. Mesmo não gostando muito de me expor até aquele momento, lá sentia sinto que não sou julgado e posso falar sobre absolutamente tudo. Isso mudou minha vida definitivamente. E acho que agora você já sabe de onde tirei a ideia de sugerir um fórum pra StartSe, né!?

O processo de ida pra São Paulo até o momento em que vivo hoje renderia boas histórias e posso criar um outro post falando sobre isso futuramente.

Contei tudo isso pra voltar ao ponto inicial desse post e concluir: a vida é surpreendente e as palavras têm poder. 10 meses depois - dia 20 de abril de 2018; por coincidência aniversário da minha mãe - eu jamais imaginaria que visitaria a Califórnia por 2 semanas com a StartSe, trabalharia com o Mauricio e realizaria mais um sonho à curto prazo. Isso era impossível há 1 ano.

Parte da equipe da StartSe (9 pessoas de pé e 6 pessoas sentadas, numa calçada), todas olhando para a foto, em frente a um lugar com muro baixo feito de tijolos, em San Carlos, Califórnia.

Parte da equipe StartSe em San Carlos, Califórnia, em Abril de 2018

Me sinto privilegiado por estar experienciando tudo o que estou vivendo, estar convivendo com pessoas incríveis (que não citei nesse post, mas possivelmente contarei numa próxima oportunidade) e, mesmo com os altos e baixos, posso dizer que é a melhor fase da minha vida. Pra mim, é quase que um dever moral fazer o esforço de compartilhar o que estou aprendendo, vivendo e descobrindo. Acredito em um mundo abundante em que todo mundo pode ter experiências ótimas na vida, que podemos acreditar sim no melhor (mesmo que provisoriamente a vida não esteja tão boa por algum motivo) e que podemos ser mais inclusivos.

Isso me dá forças e motivação pra sempre querer evoluir e crescer. Não importa o que precisa ser feito pra isso, eu o farei. É como se eu estivesse passando de fases do jogo da vida. Cada vez fica um pouco mais difícil. E isso é bom, já que os jogos, ou projetos, mais difíceis são também os mais gratificantes e grandiosos (parafraseando minha amiga Monara Marques). Ainda bem que tudo isso é só o começo. E, se isso é só o começo, o que será que vem pela frente?

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