Pessoal que palestrou pela iniciativa da Junior Achievement para jovens da ETEC Profº Basilides de Godoy, em São Paulo

Nunca perca a oportunidade de falar em público


Eu estava na 1ª série da escola quando falei pela primeira vez em público. Gaguejei. Todos riram de mim.

Foi tão marcante que lembro até hoje. Minha memória visual quase sempre é muito boa. Tão boa quanto a afetiva. Eu consigo lembrar do que sentia.

A professora Valéria, uma loira de nariz arrebitado, de 1 metro e 60 (pelo menos na minha cabeça), estava na frente da sala explicando algo. Eu estava no meio da sala conversando rapidamente com um colega. Ela logo me grita e fala pra eu ir à frente de todo mundo e repetir o que ela tinha falado.

É…

Ela falou que…

É…

É…

Depois de todo mundo gargalhar na minha cara, a vergonha foi tanta que ela mesma deve ter sentido o meu transbordo desse sentimento ruim. Nem esperou muito e logo já mandou eu voltar a sentar.

Eu entendo perfeitamente o estudo que diz que as pessoas têm mais medo de falar em público do que até de morrer. Sei disso porque a partir do acontecimento, minha vida nunca mais foi a mesma.

Se comunicar bem é uma das maiores virtudes que você pode ter

Não quero jogar a culpa na professora Valéria. Sempre gostei de assumir 100% de responsabilidade na minha vida. O ponto é que a gente não aprende a lidar com muita coisa durante a vida. Ainda mais quando não se tem muita oportunidade de boa educação — e morando no Brasil.

Eu nunca gostei de falar em público, de me expor, de estar em evidência explicando algo. Tudo isso pode ser parte do meu temperamento, que é de mais introspecção mesmo, mas se eu continuasse assim, seria engolido vivo pelo mundo.

Ao chegar do interior em São Paulo em 2017, percebi isso logo de cara. As pessoas com mais desenvoltura, comunicativas, parecem ter mais oportunidades na vida. Não li nenhum estudo sobre isso, é só minha percepção de que, geralmente, as pessoas que comunicam aquilo que querem — e bem — conseguem ter mais atitude, correm mais atrás e alcançam mais objetivos na vida. Estou falando bobagem?

Eu sempre quero mais. Eu não conseguiria chegar até aqui se não desenvolvesse também a minha comunicação.

Como melhorei a minha comunicação em 1 passo

Pois é. Simples. Fazendo.

“Ah, vá! É mesmo?”

Parece simples, mas às vezes o óbvio precisa ser dito.

Um dos meus maiores erros de uns anos atrás foi ter focado muito em teoria, em só me preparar. Estudar vicia. Eu nunca achava que estava pronto. E não estava mesmo. Quase tudo o que conquistei na vida eu fiz sem estar pronto.

Eu sou o cara que comprou mais de 70 cursos na Udemy, só porque custavam 30 reais cada e tinham tal da promoção inédita — faz 5 anos que é inédita. Também lia um monte de coisa na internet sobre como melhorar a comunicação. É claro que isso ajuda. Ajuda saber sobre intonação, respiração, sobre acalmar sua mente.

Mas eu melhorei fazendo o básico: puxando assunto no táxi; perguntando coisas; me interessando genuinamente no outro; contando a minha história. Ou seja, me expondo ao problema.

Nunca perca a oportunidade de falar em público

Eu ouvi essa frase do Eslen Delanogare, um psicólogo que criou o Reservatório de Dopamina, uma plataforma de desenvolvimento pessoal que hoje tem mais de 110 mil alunos, e me deu um estalo. Entenda aqui “público” como 1 pessoa até o infinito. Seja 2, 10, 50 ou 5000 pessoas.

Quando precisava falar em público, apresentar trabalho de escola ou até conversar numa roda de pessoas, eu sentia como se tivesse uma batata na garganta, suava frio e minhas pernas tremiam. Eu odiava ser assim, mas não conseguia melhorar.

Depois de anos, um tempo depois de vir pra São Paulo, consegui criar esse “repertório comportamental” (termo que o Eslen usa muito). Eu precisava de repertório, de me expor, de mostrar pra minha mente que isso não iria me fazer mal.

O cérebro é plástico, ou seja, ele se molda e aprende coisas novas, frente aos estímulos e experiências novas que a gente se expõe. Olha que incrível! Tá louco. Quando ouvi isso eu fiquei animadaço pra estudar cada vez mais — e querer falar melhor. Prova disso foi que aceitei, sem hesitar, um convite do meu amigo Pedro Englert, sócio da StartSe e ex-sócio da XP Investimentos, pra falar sobre carreira e minha história de vida pra alguns alunos do Ensino Médio e Técnico numa ETEC no bairro da Vila Leopoldina em São Paulo há uns dias. A iniciativa é da Junior Achievement, uma ONG com mais de 100 anos, presente no mundo inteiro, que tem o propósito de levar conhecimento sobre empreendedorismo, educação financeira e mercado de trabalho para jovens.

Eu estudei numa ETEC, em Cachoeira Paulista/SP, em 2008 e 2009, onde fiz o curso de Técnico em Informática. Lembrei dessa época que foi, sem dúvida, a pior da minha vida. Deve ser aquilo que nossos pais falam de ser “aborrecente”. Adolescente é um bicho chato mesmo. Me sentia triste, cansado e que a vida era pesada demais.

Ainda bem que tudo passa e a gente evolui.

Por fim

Me senti muito à vontade falando pra galera da ETEC. É claro que já precisei falar muito em público muito antes. Eu falo em público, mesmo online, em inglês na empresa americana que trabalho. Eu tenho me esforçado pra engajar, pra dar minha opinião nas reuniões, pra ser útil e contribuir. Vez ou outra apareço em um story no Instagram também.

Essa palestra, pelo que lembro, foi a primeira vez que me senti muito confortável e não senti nenhum sintoma físico de tremer as pernas ou ter dor de barriga (sim, até isso eu já tive).

Você, aos poucos, para de ser egoísta e pensar só em você. Você pensa na mensagem a ser passada, no propósito de passar adiante a sua palavra. Você quer deixar a sua marca.

É uma honra poder compartilhar a minha história para as pessoas, de saber que parte delas querem fazer o que eu faço. Quem sabe eu possa influenciá-las para fazer coisas que considero boas e que podem mudar a vida, como mudei a minha e sou a prova viva — estando vivo depois de falar em público.

Referência

Sobre o medo de falar em público ser pior do que o medo de morrer: https://www.thetimes.co.uk/article/speaking-in-public-is-worse-than-death-for-most-5l2bvqlmbnt